Quando há cerca de 10 meses 2 anos comecei a ir de bicicleta para o emprego, imaginava que seria bem mais difícil do que realmente tem sido. Por um lado, tinha uma certa desconfiança relativamente à boa vontade dos automobilistas em partilharem a estrada (um daqueles assuntos que certamente abordarei um destes dias). E, por outro lado, achava que a lendária chuva da cidade de Braga seria um forte impedimento ao uso da bicicleta. Mas afinal não foi.
Diz-se que lá mais para o norte da Europa há um provérbio ciclista que afirma "There isn't such a thing as bad weather or good weather: there is bad gear and good gear". Ou seja, não há bom ou mau tempo para andar de bicicleta: há, isso sim, equipamento adequado ou inadequado a cada condição climatérica. E, contrariamente ao que o senso comum nos poderia levar a pensar, nem sempre um bom equipamento passa necessariamente por compras caras em lojas de especialidade.
Comecemos por salientar que o equipamento certo para cada caso depende de vários fatores: a distância a percorrer, o nível de inclinação, o tipo de estrada, o tipo de bicicleta, a condição física do ciclista e, finalmente, o tempo que faz.
No meu caso, percorro uma distância de 3km até ao local de trabalho, com muito pouca inclinação (quem foi que disse que Braga não era uma boa cidade para se andar de bicicleta?). Faço todo o caminho por estradas de alcatrão, ruas de paralelo e calçadas. No entanto, ainda que tenha um caminho sem lama, é frequente haver lençóis de água em algumas partes do percurso. Sobre a cidade de Braga, costuma dizer-se que é muito chuvosa, mas a verdade é que não é tanto assim. Há bastantes dias de chuva, é verdade, mas ainda muitos mais dias de sol ou de tempo nublado e seco.
Esta série de artigos servirá para registar e partilhar um pouco da minha aprendizagem ao longo deste período, na expectativa de que a informação possa ser útil a quem pretende também começar a pedalar em tempo frio ou molhado.
Guarda-lamas: o acessório indispensável nº 1
Quando comecei, sabia que um par de guarda-lamas seria uma das características essenciais para a rotina diária. Quis o acaso, contudo, que os meus guarda-lamas tardassem alguns meses até ficarem disponíveis para entrega. Infelizmente, em Portugal, a maior parte das bicicletas ainda são apenas objetos de lazer off-road...
Assim, quando surgiram as primeiras chuvadas, a minha estratégia passou por adquirir um impermeável e guardar uma muda de roupa no escritório. E resultou, parcialmente. Por um lado, isso permitiu que eu vencesse o receio inicial de enfrentar a chuva, mesmo tendo que mudar de roupa de vez em quando ao chegar ao destino. Por outro lado, rapidamente me apercebi que a falta dos guarda-lamas também afetava o funcionamento correto da bicicleta. O travão traseiro deixava de funcionar com alguma frequência, ao acumular a areia arrastada pela água, o que implicava a necessidade de alguns minutos diários de limpeza e lubrificação desse mecanismo.
Quando, meses mais tarde, tive a possibilidade de instalar os tão esperados guarda-lamas, pude finalmente dar algum descanso à minha rotina de limpar e lubrificar o travão traseiro. O guarda-lamas tratava de parar os grãos de areia antes que estes chegassem aos mecanismos. Uma outra vantagem, talvez mais óbvia, foi que passei a poder andar de bicicleta com piso molhado mas sem chuva ou com aguaceiros leves, sem impermeável. A minha pergunta de sempre, antes de pegar na bicicleta, deixou de ser "está a chover ou está o chão muito molhado?" e passou a ser "Chove muito?"...
Portanto, sem querer obviamente retirar a suprema importância de um bom conjunto de luzes (independentemente do tempo que faça), o guarda-lamas merece o lugar de acessório essencial para quem usa a bicicleta como veículo utilitário. A tal ponto que eu arriscaria dizer que deveria mesmo fazer parte da bicicleta, não como acessório, mas como componente-base.
(continua...)